segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Invicta: Escrita, Falada, Amada II


"A Minha Cidade"

A minha cidade não se chama Lisboa,

não tem cheiro a sul

e nem por ela passa o Tejo,

mas como ela, tem Nascentes

leitosos e marmóreos...

Na minha cidade os Poentes são de ouro

sobre o Douro e o mar

e só ela tem a luz do entardecer

a enfeitar o granito...

Na minha cidade, tal como em Lisboa

há gaivotas e maresia

mas não há cacilheiros no rio

rabelos

transportando nectar e almas...

Da minha cidade nasce o Norte

alcantilado, insubmisso

e o sol, quando chega, penetra-a

delicadamente, carinhosamente,

depois de vencido o nevoeiro...

Na minha cidade também há pregões,

gatos, pombas, castanhas assadas e iscas

e fado pelas vielas, pendurado com molas,

como roupa a secar nos arames...

A minha cidade tem também tardes languescentes,

coretos nas praças

velhos jogando cartas em mesas de jardim

e o revivalismo de viuvas e solteironas

passeando de eléctrico...

É bem verdade que na minha cidade

a luz, não é como a de Lisboa

mas a luz da minha cidade

é um frémito de amor do astro-rei

a beijá-la na fronte, cada manhã!...

Maria Mamede

Maria Mamede, pseudónino literário de Maria do Céu Silva Fernandes. A sua biografia pode ser consultada no blog: http://noceuenaterra.blogspot.com/.

Poema retirado do blog http://amulhereapoesia.blogspot.com/.

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