sábado, 31 de março de 2007

Saltimbancos: Jesualdo Ferreira & Fernando Santos

É já amanhã que se realiza o escaldante Benfica-Porto. Para além do carácter especial de qualquer Clássico, este tem a particularidade de em ambos os bancos estarem treinadores que já representaram o rival.















Jesualdo Ferreira iniciou a sua carreira como treinador em 84 ao serviço da Académica de Coimbra. Conta com passagens pela selecção de Angola, Estrela da Amadora, Selecção de Esperanças de Portugal, FAT Rabat (Marrocos), Alverca, Benfica, Braga e Boavista. No início desta época transitou para o FC Porto. Amanhã regressará a uma casa que bem conhece. No Benfica, Jesualdo Ferreira ocupou as funções de treinador-adjunto de Toni e posteriormente chegou ao cargo principal do emblema da Luz. Acabou por ser despedido do SLB na época 02/03, depois de ter sido eliminado da Taça de Portugal pelo Gondomar, em pleno Estádio da Luz. No FC Porto, Jesualdo Ferreira tem a grande oportunidade de atingir aquilo que nunca conseguiu enquanto treinador principal: ser campeão nacional.













Do outro lado da barricada estará Fernando Santos. O actual treinador do Sport Lisboa e Benfica iniciou a sua carreira de treinador no Estoril Praia, na época de 93/94. Fez história no comando do Estrela da Amadora, clube que orientou na temporada seguinte à sua estreia como treinador. Os bons desempenhos na Amadora levariam Fernando Santos ao Futebol Clube do Porto. Na Cidade Invicta, conseguiria o seu único título de campeão nacional, permitindo que o FC Porto obtivesse o seu quinto título consecutivo. Um facto inédito no futebol português que determinou a alcunha de "Engenheiro do Penta" ao treinador lisboeta. Do currículo de Fernando Santos constam ainda passagens pelo AEK de Atenas, Panathinaikos e Sporting Clube de Portugal. Refira-se que Fernando Santos conseguiu a proeza de ser o primeiro treinador português a comandar os destinos dos três grandes clubes de Portugal.

domingo, 25 de março de 2007

Quando a caneta verte o sangue das veias (1)

LOA AO PORTO

Que impulso de dizer-te pátria, Porto:
O corpo amuralhado de granito,
Cabelo d'água, à névoa, ao vento, exposto,
Face esculpida em grito.

Braços de ferro, arqueados, desmedidos,
Sobre o fluir dos barcos e do barro.
E um rumor antigo
Na voz das tuas ruas e mercados.

Vestes de escuro e enfeitas-te de luzes
Antes do Sol perder seu oiro pálido.
E das torres com sinos e com cruzes
Acenas ao mar largo.

Bulícios de cafés (há mais de mil)
Entornam-te nas veias graça e fogo.
E o lírico torpor dos teus jardins
Suspiros e repouso.

Que impulso de dizer-te pátria, Porto:
Coração, não de Pedro, mas de pedra
Com sangue fértil, vinho generoso
A gerar alma e terra.

António Manuel Couto Viana

domingo, 18 de março de 2007

Desnorteados

Nortada que outrora foi forte e duradoura, progressivamente amainou e agora confirma-se frouxa. Caravela à deriva, sem força para chegar a um bom Porto. Intensidade por demais moderada. Tempo que passa e apatia que dele se alimenta. Tripulação ofegante, inoperante, incapaz. Comandante ineficaz. Multidões em suspenso, iludindo-se com o que o olhar não alcança. Onde estará a bússola pela qual o Porto se orientou até Dezembro?

O Porto averbou a terceira derrota da época em casa. Depois do Atlético e do Estrela da Amadora foi a vez do Sporting vencer no reduto do Campeão Nacional. Em abono da verdade, deve referir-se que o Sporting Clube de Portugal ganhou bem e jogou praticamente sozinho. Não existem argumentos plausíveis que possam contrariar a superioridade leonina. Sem rodeios, devemos admitir que perdemos para uma equipa que o foi na verdadeira acepção da palavra. Não me custa admitir a superioridade do Sporting nesta partida. Incomoda-me somente que o Porto não tenha sido capaz de exibir todas as suas potencialidades, fazendo da vitória do Sporting um facto incontestável. Sinceramente, pensava que o Porto já se tinha deixado destas coisas. As razões para esta derrota têm tanto de surpreendente como de repetível. Atlético e Estrela da Amadora, ao que parece, foram lições ignoradas. Quando assim é, repetem-se os erros do passado. À terceira só cai quem quer....

Em campo, notou-se uma gritante falta de intensidade, de garra, de paixão pelo jogo. Ninguém me condenará se acrescentar que faltou seriedade e concentração a alguns elementos azuis e brancos. Atabalhoados, displicentes, nervosos, esgotados, os jogadores do Porto foram uma desilusão. Facilmente se constata que o Porto, pelo segundo ano consecutivo, padece de stress pós-Natal. Arrisca a ver anulada a vantagem pontual que conseguiu aquando da viragem do campeonato. Recorde-se que eram oito pontos! Jesualdo Ferreira apostou em Alan para render o lesionado Lisandro López. E que falta fez o argentino. Esta constatação é esclarecedora quanto ao desempenho de Alan. Esteve completamente a leste do jogo. O Sporting movimentou-se muito bem, conseguiu uma importante superioridade no meio-campo e fez uma inteligente circulação de bola. Destaque para os homens da frente: Nani, Romagnoli e Yannick Djaló. O Porto nunca dominou a partida, foi sendo continuamente manietado pela forma de actuar do Sporting.

Neste jogo, os holofotes rapidamente incidiram sobre os guarda-redes. Ao 2º minuto, já Ricardo e Helton tinham sido chamados a intervir. Ambos corresponderam em grande nível. De resto, a prontidão dos guarda-redes foi uma constante. Helton voltou aos grandes momentos e realizou uma grande exibição. Ricardo foi mais espectador do que Helton mas no final da partida revelou-se como fundamental para segurar os três pontos para os lisboetas. Rodrigo Tello foi o único a conseguir fazer balançar as redes do Estádio do Dragão. Num livre directo, o chileno chutou forte e colocado, assinando um golaço. Helton ainda voou para a bola mas não a conseguiu apanhar. Um golo decidiu o Clássico do Estádio do Dragão, em que a fraca prestação do Porto foi o tónico ideal para o Sporting reentrar nas contas do título.

É inevitável olhar para o jogo de ontem e não recordarmos o fiasco do Clássico do ano passado com o Benfica, em que perdemos 0-2. Catorze anos depois o Benfica voltava a vencer em território azul e branco. Ontem o Sporting fez história ao vencer na Invicta dez anos depois. Em ambos os jogos, a superioridade lisboeta foi inequívoca e o futebol dos tripeiros foi fraquinho, muito fraquinho. No entanto, no ano passado, mesmo depois de perdermos com o SLB no Dragão conseguimos vencer o Sporting em Alvalade. Apesar do favoritismo deles por jogarem em casa, vencemos e arrancámos rumo ao título. Façamos as contas ao contrário ou, por outra, actualizemos as contas. O Porto perdeu ontem no Dragão com o Sporting e desloca-se na próxima jornada ao Estádio da Luz, sendo, à partida, menos favorito do que o SLB. Conseguirá o FCP ter estofo para vencer e fazer novamente de Lisboa um marco no caminho do título? A lembrança da época passada é a única esperança e a única cartilha que nos resta. Assim se encontre o norte pelas terras de Luís Vaz de Camões.

Deixo uma palavra de apreço a todos aqueles que mesmo perante a pálida exibição apoiaram a equipa até ao último minuto e dedicaram o seu tempo a preparar um bonito efeito visual na entrada das equipas. Que os atletas pensem nos adeptos e no exemplo de dedicação demonstrado na próxima vez que entrarem em campo.

22ª Jornada da Liga: FC Porto 0-1 Sporting

Estádio do Dragão, Porto

49 428 espectadores

FC Porto: Helton; Fucile, Pepe, Bruno Alves e Cech; Lucho González (Jorginho, 74m), Paulo Assunção e Raul Meireles; Alan (Postiga, 45m), Adriano (Bruno Moraes, 77m) e Quaresma.

Treinador: Jesualdo Ferreira

Sporting: Ricardo; Abel, Polga, Caneira e Tello; Miguel Veloso, João Moutinho, Romagnoli (Pereirinha, 68m) e Nani; Alecsandro (Custódio, 83m) e Yannick.

Treinador: Paulo Bento

Disciplina: Amarelo a João Moutinho (81m)

Marcadores: 0-1, Tello (72m)

Melhor em campo: Nani

segunda-feira, 12 de março de 2007

Dos Barreiros com ardor

O Porto soma e segue. Venceu o Marítimo e continua líder isolado da classificação. Antes desta partida, pairavam fantasmas no ar, suspeitava-se de armadilhas e cascas de banana na Terra, pois o Porto não saboreava uma vitória na Madeira, a contar para o campeonato, há cinco anos. Haveria um trauma por jogar na ilha e seriam os dragões condescendentes com a tradição? Dúvidas que seriam totalmente dissipadas no decorrer do encontro. O Porto foi uma equipa personalizada e autoritária. Nem por sombras se notou o estigma de o Porto jogar no Funchal. O Marítimo foi uma formação muito pouco audaz e isso notou-se pela forma como Ulisses Morais escalonou o seu onze. Jesualdo também reservou duas surpresas, Ibson e Renteria, mas provou o fel das lesões. Porém, era facilmente observável que seria uma questão de mais minuto menos minuto para o Porto decidir a contenda a seu favor. Pela amostra inicial, a única perdição crível que o Porto poderia sofrer era a de render-se perante a beleza da ilha da Madeira. No terreno de jogo, contava-se outra história.

O Porto controlou o jogo enquanto quis. Foi pena que não o tivesse querido controlar até ao fim. Claramente dominadores, os jogadores portistas impuseram o seu futebol e rapidamente chegaram à vantagem. Antes da inauguração do marcador, o Porto perdeu uma unidade do meio-campo. Ibson sofreu uma lesão no joelho e teve de ceder o seu lugar a Raul Meireles. O azar não se abstém de importunar o jogador brasileiro, que vê mais uma vez adiada a possibilidade de explanar as enormes capacidades futebolísticas que todos lhe reconhecem. Passados poucos minutos da infelicidade azul e branca, surgiu o golo de Adriano. Marek Cech cobrou um canto, Bruno Alves surgiu ao segundo poste e a bola sobrou para Adriano que com um cabeceamento de cima para baixo inaugurou o marcador nos Barreiros. Imaginava-se que a serenidade chegaria com um segundo golo. Este surgiu pelo recém-entrado Raul Meireles num disparo fora da área, que sofreu um desvio de trajectória ao embater nas pernas de Milton do Ó. Todavia, o estado de tranquilidade não duraria muito mais. Tudo porque o Porto se viu obrigado a fazer uma segunda substituição por lesão. Depois do ex-Flamenguista Ibson, seria o central Bruno Alves a ter de abandonar a partida com um estiramento muscular. As circunstâncias da partida insistiam em não dar sossego ao Porto. O Marítimo, nesta altura, notava-se mais pela agressividade dos seus futebolistas do que propriamente pelas capacidades técnicas ou tácticas. Infelizmente este modus operandis teima em proliferar no campeonato português. O Porto chegava ao intervalo como um justo vencedor. O Marítimo nada tinha feito para manter aquela tradição de que tanto se orgulhavam os madeirenses. Não fossem as lesões e tratava-se de um belo passeio pelo jardim madeirense.

A 2ª parte foi menos conseguida. Em parte, por culpa do FCP pois tinha dois golos de vantagem e tentou fazer uma compreensível poupança tendo em vista os importantes desafios que o futuro reserva. No entanto, não podem ser amputadas responsabilidades ao Marítimo. Os insulares possuem um orçamento elevado, em comparação com outros emblemas da Liga, que exigiria certamente uma equipa a jogar melhor futebol. Conclui-se, portanto, que nem um Porto mais contido foi suficiente para desencadear uma maior iniciativa madeirense. De facto, até pertenceram ao Porto as melhores oportunidades de golo neste segundo período. Quaresma e Adriano tiveram boas chances de aumentar a contagem. Ao Marítimo valeu Marcos, que se cotou provavelmente como o melhor jogador na 2ª parte. Na outra baliza, Helton dava mostras de estar recomposto da noite ingrata de Londres. No entanto, na recta final do desafio, cometeu um erro que valeu um golo ao Marítimo. Gregory saltou mais alto do que o guarda-redes brasileiro e depois de uma enorme confusão na área, em que os azuis procuravam sacudir a bola, Douglas apareceu em posição frontal e disferiu um pontapé fulminante que bateu Helton. Pouco tempo depois o jogo chegava ao fim.

Vitória justíssima do FCP, que terminou com um jejum de cinco anos sem vencer o Marítimo na Madeira para a Liga portuguesa. Este jogo serviu, em boa parte, para observar a forma como o Porto reagiria à pressão de jogar num terreno onde já não vencia há um tempo considerável. A isso, adicione-se o facto de se estarem a aproximar os clássicos da segunda volta. Para a semana o Porto recebe o Sporting e na jornada seguinte desloca-se ao Estádio da Luz. Um ciclo de três jogos que darão para medir bem o pulso dos portistas. Ver-se-à se o título de campeão lhes assenta que nem uma luva. Pelo sucesso do jogo de ontem, pode dizer-se que o Porto já está com um dedo introduzido na luva do título. Que venham os grandes opositores retirá-lo. Se forem capazes, claro.

Jesualdo Ferreira disse o seguinte: «Faltam-nos nove jogos e oito vitórias para sermos campeões. Vamos atrás delas com todo o ardor.» Percebe-se que ontem se iniciou um ciclo decisivo. Do que se fizer nesses próximos nove jogos concluir-se-à se esta foi ou não uma época positiva. A liderança é boa mas nada está garantido. Importa que grasse, em campo, o ardor pois das bancadas o amor, esse, continuará sempre. Com ou sem bailinhos.

domingo, 11 de março de 2007

21ª Jornada da Liga: Marítimo 1-2 FC Porto

Estádio dos Barreiros, Madeira

Marítimo: Marcos; Briguel (Wénio, 64m), Milton do Ó, Gregory e Evaldo; Arvid, Olberdam e Marcinho; Douglas, Kanu (Mbesuma, 58m) e Luís Olim (Lipatin, 58m).

Treinador: Ulisses Morais

FC Porto: Helton; Fucile, Pepe, Bruno Alves (R. Costa, 35m) e Cech; Paulo Assunção, Lucho González e Ibson (Raul Meireles, 13m); Renteria (Jorginho, 58m), Adriano e Quaresma.

Treinador: Jesualdo Ferreira

Disciplina: Amarelo a Marcinho (76m), Helton (85m), Jorginho (90m) e Lipatin (90m)

Marcadores: 0-1, Adriano (17m); 0-2, Raul Meireles (27m); 1-2, Douglas (85m)

Melhor em campo: Raul Meireles

quarta-feira, 7 de março de 2007

Fabricantes de sonhos

O sonho chegou ao fim. Acordar foi estranho. Abrir os olhos foi penoso. O sonho era lindo. Comum a milhões de pessoas. Sonhámos o mesmo e acordámos juntos. Abruptamente. Foi como se não o quiséssemos fazer. Queríamos a continuação daquele sonho, assistir ao desenrolar dos acontecimentos, que prevíamos magníficos. Despertar não estava no nosso horizonte de expectativas, mas circunstâncias à margem da nossa vontade sobrepuseram-se. Prosseguir era o que merecíamos. Sem hipóteses de prever acertadamente o que se seguiria, explane-se o que a memória reteve.

O Porto chegou a Stamford Bridge com um empate a uma bola conseguido no Dragão. Na 1ª mão desta eliminatória, sentiu-se uma certa injustiça pelo resultado. Pareceu que o Chelsea não merecera apontar na sua conta aquele golo de Shevchenko. Tanto mais que a trivela de Quaresma esbarrou na trave da baliza de Cech, depois de o checo ter torcido o seu pescoço para acompanhar a trajectória da bola. Tinha ficado a impressão de que o Porto podia ter vencido aquela partida. E a satisfação do Chelsea com o empate era um sinónimo da infelicidade portuguesa.

Todos concordamos que o Chelsea é superior, tal como admitimos ser impossível competir financeiramente com os ingleses. Mas o que nos movia era o tal sonho que podíamos produzir. Interiorizarmos a evidência dessa superioridade adversária e num golpe mágico de firmeza derrotá-la. Estivemos quase a presenciar o eclipse das estrelas londrinas. Foi pena o infortúnio ter-nos acompanhado novamente.

O Porto surpreendeu ao montar um novo esquema para abordar o Chelsea. Jesualdo Ferreira jogou em 4x4x2, deixando Adriano no banco. Ricardo Costa ocupou o lado esquerdo da defesa, ao passo que Cech adiantou-se no terreno, jogando num vértice do losango a meio-campo. A estratégia funcionou muito bem na 1ª parte. O meio-campo do Porto pressionava bem o Chelsea e possuía superioridade numérica nessa zona do terreno. Foi numa recuperação de Pepe a meio-campo que o Porto chegou à vantagem no marcador. O defesa brasileiro ganhou a bola a Drogba e fez o passe para Lisandro. Rapidamente o avançado lançou Lucho que, por sua vez, isolou Quaresma. Sozinho perante Petr Cech, o extremo português chutou a bola com a parte exterior do pé direito, fazendo-a passar por debaixo do corpo do guarda-redes do Chelsea. 3300 adeptos portistas exultavam com o delicioso gesto técnico de Quaresma, que desta vez desfeiteou Petr Cech.

Estava conseguido o golo do Porto em Stamford Bridge. Um golo obrigatório para os azuis da Invicta. Daí até ao intervalo o Porto foi segurando com maior ou menor dificuldade o ímpeto atacante dos londrinos. O Porto conseguira nos primeiros 45 minutos um jogo quase perfeito. A constelação britânica comandada por José Mourinho estava perfeitamente controlada pela equipa portuguesa. O Porto demontrou a sua classe, a sua qualidade, provando ser capaz de ombrear com um clube que detém alguns dos melhores jogadores do mundo. O sonho estava em curso, alimentado pela atitude fantástica dos jogadores. Bastavam mais 45 minutos idênticos aos primeiros para alcançar o Olimpo.

Infelizmente, o início da 2ª parte coincidiu com o golo do Chelsea. E que golo mais invulgar. Helton posicionou-se mal e quando se preparava para apanhar a bola deitado no chão, ela bate no seu corpo e salta para dentro da baliza do Porto. Uma infelicidade tremenda! Um golo estranho, no mínimo. Por um lado, é totalmente inédito ver Helton associado a tamanha fífia, por outro, era mais uma vez a sorte a estar do lado da equipa de José Mourinho. Errar é humano. O futebol é uma surpresa constante. Quem se lembra da fantástica defesa de Helton contra o Braga, em que defendeu com o pé um remate de Zé Carlos, jamais imaginaria assistir a algo parecido com aquele golo em Londres. Mas é precisamente por Helton nos ter habituado a estar num patamar tão elevado que se estranha a prenda que ofereceu ao Chelsea. Também é um facto que Helton não é feliz em Londres. Sofreu dois golos contra o Arsenal, sofreu contra a selecção portuguesa e agora sentia novamente Londres ser madrasta consigo.

É inegável que o golo afectou toda a equipa. Notaram-se falhas e inseguranças, mas bastaria marcar mais um golo para estarmos de novo em vantagem na eliminatória. Um simples golo que não mais surgiu. Estávamos perto de acordar pois éramos pouco mais do que inofensivos no ataque. Aquela falha, quer queiramos ou não, teve o condão de espicaçar o Chelsea. E a partir daí começou a perceber-se as diferenças entre as duas equipas. O Chelsea estava na mó de cima. Adriano e Ibson ficaram-se pelas intenções e o regresso ao 4x3x3 trouxe pouco mais que nada. Num total de 180 minutos, o Chelsea preparava-se para decidir tudo a seu favor em apenas 45'. Pressentia-se que a sorte ficaria definitivamente do lado deles. Num despejo para a área do Porto, Shevchenko amorteceu de cabeça para Ballack, que sem oposição, rematou para o fundo da baliza de Helton. Estava feito. Estavam destroçados os nossos corações com o ditar da sorte do jogo. O Campeão Nacional quebrava de cansaço físico e emocional. Nem mesmo um forcing final foi possível junto da baliza de Cech. Afinal, já estávamos no lento e doloroso despertar. Afinal, já víamos as estrelas à nossa frente. Já era o Chelsea rico e famoso. Já era a super equipa, que afinal estivemos a escassa meia-parte de eliminar. Como foi óptimo enquanto jogámos sem ligar que eles eram o Chelsea, como soube bem jogarmos taco-a-taco com os melhores jogadores do futebol mundial. Como foi bom ver o Porto jogar com autoridade num campo em que apenas o Barcelona saiu com uma vitória em dois anos. Como deu gosto ver os novos ricos de Londres tremerem com aqueles dragões irredutíveis. Que prazer este de ver o Porto a bater-se de igual para igual com a elite do futebol europeu, mesmo sabendo das diferenças que existem a muitos níveis.

No cômputo geral, Porto e Chelsea exibiram-se a um nível semelhante. Pelo que jogou no Dragão, o Porto deveria ter chegado a Londres em vantagem. Pena que nos últimos 45 minutos da eliminatória, tenhamos acordado para a realidade. Injusta pelo somatório entre o jogo do Dragão e a 1ª parte de Stamford Bridge. Meia-parte, é quanto tempo basta para um rico enaltecer a sua diferença. Ontem, o Porto orgulhou as suas gentes. Mais, o Porto representou condignamente Portugal neste trajecto na Champions League. O sonho de chegar aos quartos-de-final acabou. Porém, fica a sensação de que se nos tocasse a mesma sorte que o Chelsea teve, estaríamos agora lá. Todos nós sonhamos com a passagem e só por mera infelicidade não a alcançamos. No entanto, todos recordarão para sempre o sonho da noite passada. A realidade é como se fosse uma história mal contada. Para nós, foi o Porto que passou. Merecia-o. Não jogaremos os oitavos-de-final da Champions League, mas reservamos moralmente um lugar para o próximo ano.

Há homens ricos que ambicionam o monopólio dos sonhos. Há homens que já sonharam, mas agora não o querem mais. Não há dinheiro que possa comprar o sonho que ontem vivemos. Pelo contrário, o nosso sonho quase tornava o dinheiro prescindível. O nosso palmarés foi enriquecido com sonhos e hoje brilha mais intensamente do que qualquer constelação que o dinheiro compra. É desta história que nos orgulhamos e é por tudo isto que cada vez mais amamos o Porto.

terça-feira, 6 de março de 2007

Champions League: Chelsea 2-1 FC Porto

Stamford Bridge, Londres

Resultado das duas mãos: 3-2

Chelsea: Petr Cech; Diarra (Paulo Ferreira, 66m), Carvalho, Essien e A. Cole; Makelele (Obi Mikel, 46m), Robben, Lampard e Ballack; Shevchenko (Kalou, 85m) e Drogba.

Treinador: José Mourinho

FC Porto: Helton; Fucile, Pepe, Bruno Alves e R. Costa; Paulo Assunção, Cech (Adriano, 56m), Lucho Gonzalez e Raul Meireles (Ibson, 56m); Lisandro Lopez (Bruno Moraes, 82m) e Quaresma.

Treinador: Jesualdo Ferreira

Disciplina: Amarelo a Robben (35m), Quaresma (58m), Diarra (61m), Fucile (83m) e Adriano (87m)

Marcadores: 0-1, Quaresma (15m); 1-1, Robben (48m); 2-1, Ballack (79m)

Melhor em campo: Pepe

segunda-feira, 5 de março de 2007

Regressos

Num sempre apetecível Porto-Braga, o clube da Invicta levou a melhor e continua líder da Liga portuguesa de futebol, para desconsolo de alguns. O Braga provou ser uma equipa muito competitiva, na senda do que vinha fazendo nos últimos cinco jogos com o Porto, em que nunca perdeu. Ateste-se, por isso, a importância da vitória. É notável o desenvolvimento do conjunto arsenalista. Faz mesmo lembrar aquela outra equipa minhota que traja de branco....em meados dos anos 90!

O jogo foi inquieto, bem jogado e de uma grande entrega da parte dos artistas. O 4º minuto de jogo parecia vaticinar a coroação de um lutador por excelência. Adriano não desistiu de uma bola que se julgava perdida, chegou primeiro que Paulo Santos, mas o desvio saiu ao lado da baliza do Braga. Nada que o fizesse apoquentar. Quem passou grande parte da temporada esperando uma oportunidade de ser titular, aguentaria certamente mais uns minutinhos de espera pelo alcançar da glória. Ora nem mais. Decorridos 10 min. de jogo, Adriano seguiu para a área do Braga aguardando pacientemente que os argentinos trabalhassem o lance para ele. Assim foi. Lisandro levou a bola pelo corredor esquerdo, entregou-a a Lucho que de primeira cruzou «à Quaresma». Adriano fez o papel de bom brasileiro. Ludibriou a marcação do defesa, recebeu a bola e prontamente disparou um forte remate que só as redes da baliza do Braga pararam. Adriano a deixar o seu cunho no jogo e a assinar 3 golos consecutivos em outros tantos jogos no campeonato.

O Braga que se dava bem com os ares do Dragão, ficava subitamente em desvantagem. Porém, não poupou esforços em desfazer esse resultado negativo. A oportunidade mais flagrante dos minhotos aconteceu ao minuto 31. Jorge Luiz descobriu Frechaut à entrada da área, endereçou-lhe a bola e o português rematou fortíssimo. Helton defendeu a bola para a frente e eis que surgiu, à queima-roupa, Zé Carlos para a recarga. Extraordinariamente, Helton defendeu a bola com o pé. No dia em que se realizou o funeral de um gigante das balizas, Manuel Bento, Helton protagonizou uma defesa "impossível". São estas paradas que potenciam mitos de luvas calçadas. E foi com o 1-0 que se recolheu aos balneários.

A 2ª parte começou na marca do meio-campo, mas quase principiava na marca de penalty da área do Braga. Luís Filipe cometeu falta merecedora de punição, após uma boa arrancada de Meireles. Chamado à cobrança, "El Capitán" permitiu que Paulo Santos tivesse asas para voar de encontro ao seu remate. Lisandro tentou redimir o compatriota, mas o Paulo Santos gorou a hipótese de soar um tango. Os guarda-redes de serviço portavam-se brilhantemente, como que se fosse essa a forma de prestarem homenagem ao homem que tão bem desempenhou aquela função. O Porto tentou levar adiante a ideia de ampliar a contagem. Por sua vez, o Braga empregou-se a fundo na tentativa de preservar a invencibilidade que possuía nos últimos cinco embates com o Porto. Porém, este jogo quis premiar a determinação de um guerreiro. Assim, os pés mágicos de Quaresma não foram o píncaro do jogo, Lisandro não marcou como o fez ultimamente, nem mesmo o Zé foi o do 'Gol'. O jogo já tinha escolhido Adriano para seu herói.

Este Porto-Braga fica indelevelmente marcado pelos regressos. De Jorge Costa. De Aloísio. De Adriano ao onze. Das vitórias contra o Braga. O resultado final foi magro, mas esta foi a equipa que nas últimas três partidas da Liga portuguesa apontou dez golos e não sofreu nenhum. O Porto ganhou por 1-0, mas assistimos a uma verdadeira goleada de humildade e perseverança de Adriano, o paciente brasileiro.

domingo, 4 de março de 2007

20ª Jornada da Liga: FC Porto 1-0 SC Braga

Estádio do Dragão, Porto

41 228 espectadores

FC Porto: Helton; Bosingwa (Lucas Mareque, 53 m), Pepe, Bruno Alves e Fucile; Paulo Assunção, Lucho Gonzalez (Ibson, 64 m) e Raul Meireles; Lisandro, Adriano e Quaresma.

Treinador: Jesualdo Ferreira

SC Braga: Paulo Santos; Luís Filipe, Paulo Jorge, Rodriguez e Jorge Luiz; Andrade, Frechaut e Castanheira (Davide, 77 m); Diego (Chmiest, 64 m), Zé Carlos e Cesinha (Bruno Gama, 84 m).

Treinador: Jorge Costa

Disciplina: Amarelo a Zé Carlos (43 m), Luís Filipe (46 m), Raul Meireles (67 m), Jorge Luiz (73 m), Paulo Assunção (81 m) e Lisandro (90 m).

Marcadores: 1-0, Adriano (10 m)

Melhor em campo: Adriano

Guardião da Invicta

Antiga, mui nobre, sempre leal e Invicta cidade. Amar o Porto é fácil. Um olhar espontâneo sobre cada traço arquitectónico é suficiente para nos envolvermos no magma de afectos que as superfícies graníticas deixam aqui transparecer. Cada rua, cada edifício, cada jardim, cada monumento é um fragmento que impele a procurar o fragmento seguinte para obter a continuação de um amor infinito. O Douro é a lágrima que escorre ininterruptamente pela face da cidade. Derrama um puro e intemporal choro de amor pelo Porto. E como é fácil gostar do Porto. Mais difícil é ver nele defeitos e mesmo assim continuar a amá-lo com a mesma intensidade. É fácil sentir prazer no Porto. Mais difícil é virar-lhe as costas na travessia da ponte para Gaia. Perdoa-se a traição, pois quando se está na outra margem do rio, é para o Porto que se olha. Em cada fachada há uma bandeira que o vento não consegue desfraldar. Em cada rua há um sombreado alheio à carência da luz do sol. Em cada monumento há um calor permanente que nem a frialdade da pedra consegue arrefecer. Em cada jardim há um predomínio pictórico, uma tonalidade comprometedora, que nem a variedade de flores consegue esbater. Há um azul omnipresente, implícito, que apesar de invisível todos sabem que lá está. Pertence à paisagem, enraizou-se nela.

A cidade do Porto é musa inspiradora para homens que escrevem poesia em relvados. Há um clube azul que a idolatra. Em 28 de Setembro de 1893 nasceu o Futebol Clube do Porto, o guardião supremo e fiel da cidade Invicta. Esta respira tranquila em cada progresso que faz. Sabe que há uma aura mística que a envolve e fortalece. É natural o fascínio, é natural a redenção. Ela é Invicta cidade, fadada para ser amada como as belas mulheres o são por entre a vulgaridade. Dar o melhor em prol de uma cidade e de um clube é desenvolver em si as raízes do amor próprio. Afinal, o Porto somos nós. É por amor que se abdica de uma necessidade para apelar a uma causa. É assim que se faz das tripas, coração. É assim a gente do Porto. Movida a amor, pela cidade e pelo clube. O Porto ouve-se nas pessoas que o trazem no coração. Pronúncia do norte, mais não é do que prenúncio de ter o coração perto da boca. O Porto sente-se no relvado como nas ruas. A Invicta transporta-se para os atletas, bem colada ao coração, num emblema que traduz a união ímpar entre dois objectos de amor. Não importam as vicissitudes da vida, cidade e clube terão sempre um povo fiel que os amará louca e eternamente. Só quem sente, entende.