segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Maracanã vibra com cântico português! E esta, hein?!


Estádio Maracanã. Rio de Janeiro. Brasil. Estas palavras fazem parte do imaginário de todos os adeptos de futebol e muito particularmente dos portugueses, apreciadores ou não deste desporto. Historicamente ligados, Portugal e Brasil mantêm contemporaneamente uma relação estreita no que respeita ao futebol. Por um lado, existem muitos futebolistas brasileiros a actuar em Portugal, o seleccionador nacional é brasileiro e o Brasil desperta interesse em Portugal por ter times com grande história, alguns com origem portuguesa, e também por ter a melhor selecção do Mundo. Vislumbram-se agora sinais de um trajecto inverso. A maior atenção dos brasileiros pelo futebol luso dever-se-à certamente a Felipão, se bem que os clubes portugueses e a selecção nacional gozem hoje de uma visibilidade e prestígio que aguçam a curiosidade do Mundo inteiro. As televisões brasileiras também já passam jogos do campeonato português e existem aqui atletas com possibilidade de serem seleccionados para a canarinha.

Esta nota introdutória serve para, de certa forma, ajudar a explicar uma situação recente que está a agitar o Brasil e que é pouco conhecida em Portugal. Pois bem, surpreendentemente ou não, a torcida do Botafogo, composta por cerca de 2,7 milhões de torcedores, adoptou há cerca de quatro meses um cântico habitualmente entoado no Estádio do Dragão, casa do Futebol Clube do Porto. O cântico em questão é o “Ninguém cala este nosso amor” e funciona para os botafoguenses como um segundo hino do seu clube. Na verdade, este «hit» foi criado pelos Tuff Boys, claque do Futebol Clube do Marco, e tornado célebre pelos ultras do FC Porto. O grande destaque desta notícia é o curioso e até aqui improvável fenómeno de exportação. Portugal sempre se interessou muito mais pelas coisas do Brasil e está mais receptivo a importações do que o contrário. Isto deixa bem claro que esta adaptação pelos brasileiros de um cântico português é um fenómeno novo e que merece ser destacado. Nunca nenhum grupo de música portuguesa, por exemplo, conseguiu atingir o sucesso que lhes permitisse ter visibilidade no Brasil inteiro. No entanto, um cântico de futebol conseguiu-o.



Isto não deixa de constituir um feito assinalável. Do Marco de Canaveses, cidade a uma distância de cerca de 50 km do Porto, onde foi criado, passando pela Invicta onde foi mediatizado, até chegar ao Brasil, este cântico conseguiu uma audiência que nunca os mais conceituados músicos portugueses ousaram atingir em terras de Vera Cruz. Porém, cingindo-nos ao futebol e seus derivados, é um tanto ao quanto estranho constatar que os brasileiros venham beber inspiração a Portugal. O movimento de adeptos organizados em Portugal atravessa uma fase complicada, com a implementação de absurdas leis repressivas, e também nunca fomos um país de referência a este nível. A maior parte dos ritmos que se escutam nos estádios portugueses são adquiridos em Itália ou Inglaterra e é-lhes feita uma adaptação à nossa realidade. Esta é uma prática comum também em Espanha ou na França, países que fazem as suas próprias versões das músicas entoadas nas mecas de Itália ou Inglaterra. Portanto, há músicas de claques na Europa que já têm um cunho universal, não são de um clube em específico, tornaram-se, isso sim, versões especiais de cada clube de um determinado país. Ora, as torcidas brasileiras, e também as hinchadas argentinas, são muito admiradas e respeitadas na Europa. Brasil e Argentina foram modelos a seguir na fase embrionária do movimento de adeptos organizados neste continente. Não é por acaso que a mais antiga claque da Europa, a Torcida Split, fundada em 1950, possui no seu nome a palavra “Torcida”. A influência dos brasileiros sobre os croatas é visível no nome do próprio grupo. Por tudo isto, é ainda mais admirável que uma torcida de um grande clube do Brasil tenha adoptado como seu um cântico originário de Portugal.



Que fique bem claro: não há mal nenhum nas adaptações de cânticos. Os grupos ao fazê-las estão, de certa forma, a mostrar admiração por algo que outros fizeram com qualidade. Achei muito positivo que o “Ninguém cala este nosso amor” tivesse chegado tão longe, ao ponto de influenciar todas as torcidas organizadas brasileiras e de ter obtido um grande impacto nos «media» daquele país. Ao que parece, as torcidas brasileiras, a partir deste cântico, passaram a preocupar-se mais em divulgar o seu amor pelos seus clubes do que em produzir letras ofensivas aos rivais. Neste particular, a torcida do Botafogo foi muito elogiada pela imprensa desportiva brasileira por conseguir com o “Ninguém cala este nosso amor” efectuar uma «revolução» de mentalidades nas arquibancadas brasileiras. Mais, a popularidade deste cântico no Brasil é de tal ordem que foi seleccionado para um anúncio publicitário da TV do Botafogo, com o objectivo de captar mais sócios para o clube.


Os Tuff Boys criaram-no, dando o mote. Ninguém calou os Super Dragões, ninguém calou o Colectivo, e o amor pelo Porto foi entoado com tal força que foi escutado no outro lado do Oceano Atlântico. Agora, é a Fúria Jovem que exprime o seu amor pelo Botafogo, depois de ter ficado impressionada com a devoção da torcida do Porto. “Ninguém cala este nosso amor”..... porque o futebol somos nós, os adeptos, os torcedores, os hinchas, os tifosi....

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