sábado, 19 de maio de 2007

Quando a caneta verte o sangue das veias (3)

Porto da minha infância

...Lisboa em gesso branco, o Porto em pedra escura.
Sobre os abruptos alcantis do Douro;
Esse rio que vem de longe, solitário;
Cobrir-se de asas brancas de navios
E de negros canudos de vapores.
Encostados aos cais, depõem a férrea carga.
Outros, vão demandando a barra e o farolim,
Que dá uma luz - tão triste! - em noites invernosas.
Distante, no poente, esfuma-se uma nódoa
Em verdes tons fluidos que palpitam
Numa névoa indecisa, vaga imagem
Da tristeza do mar pintada em nossos olhos.

Porto da minha infância!
A primeira impressão que me causaste
Tenho-a, cheia de espanto, na memória,
Cheia de bruma e de granito!
É uma impressão de inverno,
Sombra cinzenta, enorme, donde irrompe
Alto cipreste empedernido
No meio de sepulcros habitados. [...]

Teixeira de Pascoaes

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