O sonho chegou ao fim. Acordar foi estranho. Abrir os olhos foi penoso. O sonho era lindo. Comum a milhões de pessoas. Sonhámos o mesmo e acordámos juntos. Abruptamente. Foi como se não o quiséssemos fazer. Queríamos a continuação daquele sonho, assistir ao desenrolar dos acontecimentos, que prevíamos magníficos. Despertar não estava no nosso horizonte de expectativas, mas circunstâncias à margem da nossa vontade sobrepuseram-se. Prosseguir era o que merecíamos. Sem hipóteses de prever acertadamente o que se seguiria, explane-se o que a memória reteve.
O Porto chegou a Stamford Bridge com um empate a uma bola conseguido no Dragão. Na 1ª mão desta eliminatória, sentiu-se uma certa injustiça pelo resultado. Pareceu que o Chelsea não merecera apontar na sua conta aquele golo de Shevchenko. Tanto mais que a trivela de Quaresma esbarrou na trave da baliza de Cech, depois de o checo ter torcido o seu pescoço para acompanhar a trajectória da bola. Tinha ficado a impressão de que o Porto podia ter vencido aquela partida. E a satisfação do Chelsea com o empate era um sinónimo da infelicidade portuguesa.
Todos concordamos que o Chelsea é superior, tal como admitimos ser impossível competir financeiramente com os ingleses. Mas o que nos movia era o tal sonho que podíamos produzir. Interiorizarmos a evidência dessa superioridade adversária e num golpe mágico de firmeza derrotá-la. Estivemos quase a presenciar o eclipse das estrelas londrinas. Foi pena o infortúnio ter-nos acompanhado novamente.
O Porto surpreendeu ao montar um novo esquema para abordar o Chelsea. Jesualdo Ferreira jogou em 4x4x2, deixando Adriano no banco. Ricardo Costa ocupou o lado esquerdo da defesa, ao passo que Cech adiantou-se no terreno, jogando num vértice do losango a meio-campo. A estratégia funcionou muito bem na 1ª parte. O meio-campo do Porto pressionava bem o Chelsea e possuía superioridade numérica nessa zona do terreno. Foi numa recuperação de Pepe a meio-campo que o Porto chegou à vantagem no marcador. O defesa brasileiro ganhou a bola a Drogba e fez o passe para Lisandro. Rapidamente o avançado lançou Lucho que, por sua vez, isolou Quaresma. Sozinho perante Petr Cech, o extremo português chutou a bola com a parte exterior do pé direito, fazendo-a passar por debaixo do corpo do guarda-redes do Chelsea. 3300 adeptos portistas exultavam com o delicioso gesto técnico de Quaresma, que desta vez desfeiteou Petr Cech.
Estava conseguido o golo do Porto em Stamford Bridge. Um golo obrigatório para os azuis da Invicta. Daí até ao intervalo o Porto foi segurando com maior ou menor dificuldade o ímpeto atacante dos londrinos. O Porto conseguira nos primeiros 45 minutos um jogo quase perfeito. A constelação britânica comandada por José Mourinho estava perfeitamente controlada pela equipa portuguesa. O Porto demontrou a sua classe, a sua qualidade, provando ser capaz de ombrear com um clube que detém alguns dos melhores jogadores do mundo. O sonho estava em curso, alimentado pela atitude fantástica dos jogadores. Bastavam mais 45 minutos idênticos aos primeiros para alcançar o Olimpo.
Infelizmente, o início da 2ª parte coincidiu com o golo do Chelsea. E que golo mais invulgar. Helton posicionou-se mal e quando se preparava para apanhar a bola deitado no chão, ela bate no seu corpo e salta para dentro da baliza do Porto. Uma infelicidade tremenda! Um golo estranho, no mínimo. Por um lado, é totalmente inédito ver Helton associado a tamanha fífia, por outro, era mais uma vez a sorte a estar do lado da equipa de José Mourinho. Errar é humano. O futebol é uma surpresa constante. Quem se lembra da fantástica defesa de Helton contra o Braga, em que defendeu com o pé um remate de Zé Carlos, jamais imaginaria assistir a algo parecido com aquele golo em Londres. Mas é precisamente por Helton nos ter habituado a estar num patamar tão elevado que se estranha a prenda que ofereceu ao Chelsea. Também é um facto que Helton não é feliz em Londres. Sofreu dois golos contra o Arsenal, sofreu contra a selecção portuguesa e agora sentia novamente Londres ser madrasta consigo.
É inegável que o golo afectou toda a equipa. Notaram-se falhas e inseguranças, mas bastaria marcar mais um golo para estarmos de novo em vantagem na eliminatória. Um simples golo que não mais surgiu. Estávamos perto de acordar pois éramos pouco mais do que inofensivos no ataque. Aquela falha, quer queiramos ou não, teve o condão de espicaçar o Chelsea. E a partir daí começou a perceber-se as diferenças entre as duas equipas. O Chelsea estava na mó de cima. Adriano e Ibson ficaram-se pelas intenções e o regresso ao 4x3x3 trouxe pouco mais que nada. Num total de 180 minutos, o Chelsea preparava-se para decidir tudo a seu favor em apenas 45'. Pressentia-se que a sorte ficaria definitivamente do lado deles. Num despejo para a área do Porto, Shevchenko amorteceu de cabeça para Ballack, que sem oposição, rematou para o fundo da baliza de Helton. Estava feito. Estavam destroçados os nossos corações com o ditar da sorte do jogo. O Campeão Nacional quebrava de cansaço físico e emocional. Nem mesmo um forcing final foi possível junto da baliza de Cech. Afinal, já estávamos no lento e doloroso despertar. Afinal, já víamos as estrelas à nossa frente. Já era o Chelsea rico e famoso. Já era a super equipa, que afinal estivemos a escassa meia-parte de eliminar. Como foi óptimo enquanto jogámos sem ligar que eles eram o Chelsea, como soube bem jogarmos taco-a-taco com os melhores jogadores do futebol mundial. Como foi bom ver o Porto jogar com autoridade num campo em que apenas o Barcelona saiu com uma vitória em dois anos. Como deu gosto ver os novos ricos de Londres tremerem com aqueles dragões irredutíveis. Que prazer este de ver o Porto a bater-se de igual para igual com a elite do futebol europeu, mesmo sabendo das diferenças que existem a muitos níveis.
No cômputo geral, Porto e Chelsea exibiram-se a um nível semelhante. Pelo que jogou no Dragão, o Porto deveria ter chegado a Londres em vantagem. Pena que nos últimos 45 minutos da eliminatória, tenhamos acordado para a realidade. Injusta pelo somatório entre o jogo do Dragão e a 1ª parte de Stamford Bridge. Meia-parte, é quanto tempo basta para um rico enaltecer a sua diferença. Ontem, o Porto orgulhou as suas gentes. Mais, o Porto representou condignamente Portugal neste trajecto na Champions League. O sonho de chegar aos quartos-de-final acabou. Porém, fica a sensação de que se nos tocasse a mesma sorte que o Chelsea teve, estaríamos agora lá. Todos nós sonhamos com a passagem e só por mera infelicidade não a alcançamos. No entanto, todos recordarão para sempre o sonho da noite passada. A realidade é como se fosse uma história mal contada. Para nós, foi o Porto que passou. Merecia-o. Não jogaremos os oitavos-de-final da Champions League, mas reservamos moralmente um lugar para o próximo ano.
Há homens ricos que ambicionam o monopólio dos sonhos. Há homens que já sonharam, mas agora não o querem mais. Não há dinheiro que possa comprar o sonho que ontem vivemos. Pelo contrário, o nosso sonho quase tornava o dinheiro prescindível. O nosso palmarés foi enriquecido com sonhos e hoje brilha mais intensamente do que qualquer constelação que o dinheiro compra. É desta história que nos orgulhamos e é por tudo isto que cada vez mais amamos o Porto.
O Porto chegou a Stamford Bridge com um empate a uma bola conseguido no Dragão. Na 1ª mão desta eliminatória, sentiu-se uma certa injustiça pelo resultado. Pareceu que o Chelsea não merecera apontar na sua conta aquele golo de Shevchenko. Tanto mais que a trivela de Quaresma esbarrou na trave da baliza de Cech, depois de o checo ter torcido o seu pescoço para acompanhar a trajectória da bola. Tinha ficado a impressão de que o Porto podia ter vencido aquela partida. E a satisfação do Chelsea com o empate era um sinónimo da infelicidade portuguesa.
Todos concordamos que o Chelsea é superior, tal como admitimos ser impossível competir financeiramente com os ingleses. Mas o que nos movia era o tal sonho que podíamos produzir. Interiorizarmos a evidência dessa superioridade adversária e num golpe mágico de firmeza derrotá-la. Estivemos quase a presenciar o eclipse das estrelas londrinas. Foi pena o infortúnio ter-nos acompanhado novamente.
O Porto surpreendeu ao montar um novo esquema para abordar o Chelsea. Jesualdo Ferreira jogou em 4x4x2, deixando Adriano no banco. Ricardo Costa ocupou o lado esquerdo da defesa, ao passo que Cech adiantou-se no terreno, jogando num vértice do losango a meio-campo. A estratégia funcionou muito bem na 1ª parte. O meio-campo do Porto pressionava bem o Chelsea e possuía superioridade numérica nessa zona do terreno. Foi numa recuperação de Pepe a meio-campo que o Porto chegou à vantagem no marcador. O defesa brasileiro ganhou a bola a Drogba e fez o passe para Lisandro. Rapidamente o avançado lançou Lucho que, por sua vez, isolou Quaresma. Sozinho perante Petr Cech, o extremo português chutou a bola com a parte exterior do pé direito, fazendo-a passar por debaixo do corpo do guarda-redes do Chelsea. 3300 adeptos portistas exultavam com o delicioso gesto técnico de Quaresma, que desta vez desfeiteou Petr Cech.
Estava conseguido o golo do Porto em Stamford Bridge. Um golo obrigatório para os azuis da Invicta. Daí até ao intervalo o Porto foi segurando com maior ou menor dificuldade o ímpeto atacante dos londrinos. O Porto conseguira nos primeiros 45 minutos um jogo quase perfeito. A constelação britânica comandada por José Mourinho estava perfeitamente controlada pela equipa portuguesa. O Porto demontrou a sua classe, a sua qualidade, provando ser capaz de ombrear com um clube que detém alguns dos melhores jogadores do mundo. O sonho estava em curso, alimentado pela atitude fantástica dos jogadores. Bastavam mais 45 minutos idênticos aos primeiros para alcançar o Olimpo.
Infelizmente, o início da 2ª parte coincidiu com o golo do Chelsea. E que golo mais invulgar. Helton posicionou-se mal e quando se preparava para apanhar a bola deitado no chão, ela bate no seu corpo e salta para dentro da baliza do Porto. Uma infelicidade tremenda! Um golo estranho, no mínimo. Por um lado, é totalmente inédito ver Helton associado a tamanha fífia, por outro, era mais uma vez a sorte a estar do lado da equipa de José Mourinho. Errar é humano. O futebol é uma surpresa constante. Quem se lembra da fantástica defesa de Helton contra o Braga, em que defendeu com o pé um remate de Zé Carlos, jamais imaginaria assistir a algo parecido com aquele golo em Londres. Mas é precisamente por Helton nos ter habituado a estar num patamar tão elevado que se estranha a prenda que ofereceu ao Chelsea. Também é um facto que Helton não é feliz em Londres. Sofreu dois golos contra o Arsenal, sofreu contra a selecção portuguesa e agora sentia novamente Londres ser madrasta consigo.
É inegável que o golo afectou toda a equipa. Notaram-se falhas e inseguranças, mas bastaria marcar mais um golo para estarmos de novo em vantagem na eliminatória. Um simples golo que não mais surgiu. Estávamos perto de acordar pois éramos pouco mais do que inofensivos no ataque. Aquela falha, quer queiramos ou não, teve o condão de espicaçar o Chelsea. E a partir daí começou a perceber-se as diferenças entre as duas equipas. O Chelsea estava na mó de cima. Adriano e Ibson ficaram-se pelas intenções e o regresso ao 4x3x3 trouxe pouco mais que nada. Num total de 180 minutos, o Chelsea preparava-se para decidir tudo a seu favor em apenas 45'. Pressentia-se que a sorte ficaria definitivamente do lado deles. Num despejo para a área do Porto, Shevchenko amorteceu de cabeça para Ballack, que sem oposição, rematou para o fundo da baliza de Helton. Estava feito. Estavam destroçados os nossos corações com o ditar da sorte do jogo. O Campeão Nacional quebrava de cansaço físico e emocional. Nem mesmo um forcing final foi possível junto da baliza de Cech. Afinal, já estávamos no lento e doloroso despertar. Afinal, já víamos as estrelas à nossa frente. Já era o Chelsea rico e famoso. Já era a super equipa, que afinal estivemos a escassa meia-parte de eliminar. Como foi óptimo enquanto jogámos sem ligar que eles eram o Chelsea, como soube bem jogarmos taco-a-taco com os melhores jogadores do futebol mundial. Como foi bom ver o Porto jogar com autoridade num campo em que apenas o Barcelona saiu com uma vitória em dois anos. Como deu gosto ver os novos ricos de Londres tremerem com aqueles dragões irredutíveis. Que prazer este de ver o Porto a bater-se de igual para igual com a elite do futebol europeu, mesmo sabendo das diferenças que existem a muitos níveis.
No cômputo geral, Porto e Chelsea exibiram-se a um nível semelhante. Pelo que jogou no Dragão, o Porto deveria ter chegado a Londres em vantagem. Pena que nos últimos 45 minutos da eliminatória, tenhamos acordado para a realidade. Injusta pelo somatório entre o jogo do Dragão e a 1ª parte de Stamford Bridge. Meia-parte, é quanto tempo basta para um rico enaltecer a sua diferença. Ontem, o Porto orgulhou as suas gentes. Mais, o Porto representou condignamente Portugal neste trajecto na Champions League. O sonho de chegar aos quartos-de-final acabou. Porém, fica a sensação de que se nos tocasse a mesma sorte que o Chelsea teve, estaríamos agora lá. Todos nós sonhamos com a passagem e só por mera infelicidade não a alcançamos. No entanto, todos recordarão para sempre o sonho da noite passada. A realidade é como se fosse uma história mal contada. Para nós, foi o Porto que passou. Merecia-o. Não jogaremos os oitavos-de-final da Champions League, mas reservamos moralmente um lugar para o próximo ano.
Há homens ricos que ambicionam o monopólio dos sonhos. Há homens que já sonharam, mas agora não o querem mais. Não há dinheiro que possa comprar o sonho que ontem vivemos. Pelo contrário, o nosso sonho quase tornava o dinheiro prescindível. O nosso palmarés foi enriquecido com sonhos e hoje brilha mais intensamente do que qualquer constelação que o dinheiro compra. É desta história que nos orgulhamos e é por tudo isto que cada vez mais amamos o Porto.
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