domingo, 18 de março de 2007

Desnorteados

Nortada que outrora foi forte e duradoura, progressivamente amainou e agora confirma-se frouxa. Caravela à deriva, sem força para chegar a um bom Porto. Intensidade por demais moderada. Tempo que passa e apatia que dele se alimenta. Tripulação ofegante, inoperante, incapaz. Comandante ineficaz. Multidões em suspenso, iludindo-se com o que o olhar não alcança. Onde estará a bússola pela qual o Porto se orientou até Dezembro?

O Porto averbou a terceira derrota da época em casa. Depois do Atlético e do Estrela da Amadora foi a vez do Sporting vencer no reduto do Campeão Nacional. Em abono da verdade, deve referir-se que o Sporting Clube de Portugal ganhou bem e jogou praticamente sozinho. Não existem argumentos plausíveis que possam contrariar a superioridade leonina. Sem rodeios, devemos admitir que perdemos para uma equipa que o foi na verdadeira acepção da palavra. Não me custa admitir a superioridade do Sporting nesta partida. Incomoda-me somente que o Porto não tenha sido capaz de exibir todas as suas potencialidades, fazendo da vitória do Sporting um facto incontestável. Sinceramente, pensava que o Porto já se tinha deixado destas coisas. As razões para esta derrota têm tanto de surpreendente como de repetível. Atlético e Estrela da Amadora, ao que parece, foram lições ignoradas. Quando assim é, repetem-se os erros do passado. À terceira só cai quem quer....

Em campo, notou-se uma gritante falta de intensidade, de garra, de paixão pelo jogo. Ninguém me condenará se acrescentar que faltou seriedade e concentração a alguns elementos azuis e brancos. Atabalhoados, displicentes, nervosos, esgotados, os jogadores do Porto foram uma desilusão. Facilmente se constata que o Porto, pelo segundo ano consecutivo, padece de stress pós-Natal. Arrisca a ver anulada a vantagem pontual que conseguiu aquando da viragem do campeonato. Recorde-se que eram oito pontos! Jesualdo Ferreira apostou em Alan para render o lesionado Lisandro López. E que falta fez o argentino. Esta constatação é esclarecedora quanto ao desempenho de Alan. Esteve completamente a leste do jogo. O Sporting movimentou-se muito bem, conseguiu uma importante superioridade no meio-campo e fez uma inteligente circulação de bola. Destaque para os homens da frente: Nani, Romagnoli e Yannick Djaló. O Porto nunca dominou a partida, foi sendo continuamente manietado pela forma de actuar do Sporting.

Neste jogo, os holofotes rapidamente incidiram sobre os guarda-redes. Ao 2º minuto, já Ricardo e Helton tinham sido chamados a intervir. Ambos corresponderam em grande nível. De resto, a prontidão dos guarda-redes foi uma constante. Helton voltou aos grandes momentos e realizou uma grande exibição. Ricardo foi mais espectador do que Helton mas no final da partida revelou-se como fundamental para segurar os três pontos para os lisboetas. Rodrigo Tello foi o único a conseguir fazer balançar as redes do Estádio do Dragão. Num livre directo, o chileno chutou forte e colocado, assinando um golaço. Helton ainda voou para a bola mas não a conseguiu apanhar. Um golo decidiu o Clássico do Estádio do Dragão, em que a fraca prestação do Porto foi o tónico ideal para o Sporting reentrar nas contas do título.

É inevitável olhar para o jogo de ontem e não recordarmos o fiasco do Clássico do ano passado com o Benfica, em que perdemos 0-2. Catorze anos depois o Benfica voltava a vencer em território azul e branco. Ontem o Sporting fez história ao vencer na Invicta dez anos depois. Em ambos os jogos, a superioridade lisboeta foi inequívoca e o futebol dos tripeiros foi fraquinho, muito fraquinho. No entanto, no ano passado, mesmo depois de perdermos com o SLB no Dragão conseguimos vencer o Sporting em Alvalade. Apesar do favoritismo deles por jogarem em casa, vencemos e arrancámos rumo ao título. Façamos as contas ao contrário ou, por outra, actualizemos as contas. O Porto perdeu ontem no Dragão com o Sporting e desloca-se na próxima jornada ao Estádio da Luz, sendo, à partida, menos favorito do que o SLB. Conseguirá o FCP ter estofo para vencer e fazer novamente de Lisboa um marco no caminho do título? A lembrança da época passada é a única esperança e a única cartilha que nos resta. Assim se encontre o norte pelas terras de Luís Vaz de Camões.

Deixo uma palavra de apreço a todos aqueles que mesmo perante a pálida exibição apoiaram a equipa até ao último minuto e dedicaram o seu tempo a preparar um bonito efeito visual na entrada das equipas. Que os atletas pensem nos adeptos e no exemplo de dedicação demonstrado na próxima vez que entrarem em campo.

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