quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Coração de Dragão: Domingos Paciência

Domingos Paciência foi um dos maiores ídolos dos fans do Porto. Vê-lo jogar era um regalo para a vista. O seu aspecto franzino era tão enganador para os adversários como o manancial de dribles que coleccionava. Num estilo desconcertante, Domingos contornava muralhas defensivas e tirava a paciência que lhe está no nome aos guarda-redes, que não raras vezes tinham de ir ao fundo da baliza buscar a bola. A técnica apurada de Domingos fazia dele um jogador estonteante. Quando progredia com velocidade de movimentos já se prenunciava que Domingos ia, no final, correr para a bandeirola de canto com o braço direito levantado e dedo indicador apontado ao céu, rodopiando a mão, numa forma característica de comemorar os golos.

Foi com a tenra idade de 13 anos que Domingos se tornou jogador do FC Porto, depois de um olheiro do clube da Invicta ter ficado fascinado com o jeito do então avançado da Académica de Leça. Percorrendo os vários escalões de formação, Domingos assinou um contrato profissional em 1987, ano em que o Porto foi pela primeira vez Campeão Europeu. A sua estreia na primeira equipa do Porto deu-se em Abril de 1988 contra O Elvas, pela mão de Tomislav Ivic. Esteve no FC Porto até 1997, altura em que se mudou para o Tenerife. A aventura espanhola durou dois anos e o novo capítulo da sua carreira foi o regresso ao seu FC Porto. Na Invicta, arrecadou 7 títulos de Campeão Nacional, 2 Taças de Portugal e 6 Supertaças Cândido de Oliveira. Foi internacional A português por 34 ocasiões e apontou 9 golos com a camisola das quinas. Em 1995, foi o vencedor de “A Bola de Ouro” que o distinguiu como o melhor futebolista português desse ano. A sua carreira como “número 9” terminaria em 2001 com as cores do Porto. Volvida essa etapa, abraçou as funções de treinador das camadas jovens do FCP, tendo treinado mais tarde a equipa B dos Dragões. Em 2006/07, orientou a União de Leiria. Actualmente, a Académica de Coimbra é a equipa que conta com os préstimos de Domingos na área do comando técnico.

Domingos era um daqueles jogadores que deixava transparecer a alegria que sentia quando pisava a relva. Época após época, a sua habilidade foi sendo aperfeiçoada e o seu poder de finalização foi-se tornando cada vez mais mortífero. O seu sorriso de miúdo traquina era uma das suas imagens de marca. Para ele, driblar vários adversários era o êxtase a que aspirava, secundarizando até a marcação de golos. Talvez devido a essa teimosia de querer fintar sozinho toda a defesa, muitos apelidavam-no de «brinca na areia». Certo dia, Domingos Paciência admitiu que se finalizasse como Papin seria um jogador fabuloso. Para mim, Domingos foi um atleta extraordinário à mesma. Durante a minha vida, poderei ver muitos avançados de grande gabarito, mas estou certo de que Domingos Paciência será o meu brinca na areia preferido de todos os tempos.

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