Dizer que Ricardo Quaresma foi o melhor jogador do FC Porto pode soar a normalidade... ou nem tanto. Na verdade, o Porto orgulhou-se em apresentar uma equipa onde alguns atletas atingiram um nível elevadíssimo. Eleger Quaresma como o primeiro do pódio tem, por isso, especial relevância.
Pepe manteve uma regularidade impressionante ao longo destes últimos dois anos. Não seria despropositado atribuir-lhe este destaque. Anderson em pouco tempo deliciou as bancadas e só a arreliadora lesão o impediu de estar em igualdade de circunstâncias com os outros nesta luta. Adriano foi um exemplo de paciência e revelou-se decisivo em determinado período da temporada. Lucho González, mesmo fatigado, teve uma respeitável preponderância, Lisandro foi um guerreiro e o sniper mais certeiro no trigésimo e último assalto da temporada, Bosingwa esteve supersónico, Helton foi felino e nem dois azares beliscaram as suas sete vidas. Raul Meireles foi o pêndulo do meio-campo e Paulo Assunção foi o polícia que tantos número 10 prendeu. No fundo, tento expressar que cada um, à sua maneira, teve protagonismo e isso merece, sem dúvida, ser exaltado.
Então por quê escolher Quaresma? Bem, Quaresma é Quaresma. Esta é a sua Era. Mas não importam as datas, Quaresma é quando ele quiser. Felizmente que, para nosso gáudio, Quaresma quis sê-lo muitas vezes. Este não foi o Quaresma do Sporting que se estreou precisamente contra o Porto, nem foi o Quaresma desanimado dos tempos de Barcelona, nem sequer o Quaresma individualista do primeiro ano de FC Porto. Este foi o melhor Quaresma de sempre! Esforçado, interveniente, lutador, perfeccionista, motivado, apostado em que a sua magia individual servisse a sua equipa. Quaresma ganhou porque o Porto também ganhou, caso contrário seria um autêntico esbanjamento de talento, recorde-se as intermitências que caracterizaram a época 2004/05.
Quaresma desenvolveu um estilo, um tipo de futebol que ninguém mais pratica, porque não é capaz. O modelo mais próximo que me ocorre é Drulovic. Quaresma é uma espécie de Drulovic destro, salvo as diferenças entre ambos. A sua técnica, o seu prazer em campo, o constante desafio que lança aos defesas, as deliciosas trivelas, a sua alegria, a sua magia, a sua irreverência, os sorrisos que desenha na cara quando ultrapassa um adversário são traços que ajudam a construir uma imagem do próprio FC Porto. Quaresma alcançou meritoriamente um plano de destaque na composição actual do FC Porto, assumindo-se igualmente como uma figura emergente na Selecção Nacional.
O número 7 do Porto tem sangue cigano e carrega com ele uma certa dose de misticismo que é associado àquele povo. É também um dos boys das tatuagens. Quaresma tem o futebol tatuado no corpo. Diferencia-se pelos anéis oferecidos pela sua mãe e que funcionam como amuleto. Quaresma, mais do que o senhor dos anéis, é o senhor da bola. O amuleto está nas mãos, mas o dom está nos pés. Dentro das quatro linhas, Quaresma desenrasca de um pé para o outro pé uma finta que ninguém contava, arranja espaços onde ninguém pensava que pudessem existir, parece que vê por uma frincha as movimentações na área e executa cruzamentos ultra-tecnicistas. Negoceia, quantas vezes sozinho, vitórias para nós. Quaresma já foi apelidado de feiticeiro, de mágico, de artista, de mustang, de genial, de tanta coisa. Por mim, basta chamá-lo de Quaresma, o único, o do Porto.
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