sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Coração de Dragão: Jorge Costa

Jorge Costa esvaziou o seu cacifo do balneário há pouco tempo, mas emergem já saudades de o ver trajado a rigor. Melhor, engalanado com as insígnias do Futebol Clube do Porto. O tempo passa mas não coloca na penumbra quem brilhou e encheu o nosso museu de troféus. Jorge Costa está na galeria dos melhores atletas de sempre que envergaram as nossas vestes. Desafortunadamente, o Bicho não teve a despedida dos relvados com que certamente sonhou. Não foi ao ritmo da pronúncia do norte que fez o último desarme, nem era azul e branca a camisola que pela última vez despiu. Não teve a oportunidade de pessoalmente passar a braçadeira de Capitão e a mítica camisola nº 2. Não teve os abraços daqueles que lutaram com ele em todos os relvados do país e da Europa. Não acolheu de braços abertos à multidão todo o volume possível e imaginário de gratidão sonora e simbólica que seria debitada e materializada no palco do Dragão. Tantas memórias boas, tantas imagens de sucesso em que Jorge Costa aparece como protagonista, tanta raça e mística, tanto amor pelo emblema, tantos toques de lábios e impressões digitais que não sairão nunca das taças conquistadas, tanta coisa ainda por dizer mas o que se impunha não aconteceu. Foi pena. Jorge Costa não terminou uma etapa da sua vida no clube do seu coração, mas todos temos a consciência de que o grande Capitão não esquecerá nunca o Porto e todos os fiéis que apaixonadamente o idolatram.

O emblema do Porto ocupou o lugar do coração de Jorge Costa durante 13 épocas, numa carreira que teve 16 anos como profissional. Oriundo dos juvenis do FC Foz, Jorge Costa esteve no Marítimo e no Penafiel nos primeiros anos como sénior. Fixou-se no plantel portista na época 92/93, onde viria a formar duplas magníficas no centro da defesa do FC Porto. Fernando Couto, Aloísio e Ricardo Carvalho foram as pérolas que fizeram companhia ao grande Capitão. Em 97/98, João Pinto despedia-se do futebol e Jorge Costa herdava dele a histórica camisola nº 2 e a capitania da equipa. A capacidade de liderança, a coragem, o respeito, o carisma, a lealdade, a garra e a ambição foram qualidades que o elevaram à condição de símbolo do Porto. Referência para os adeptos e figura modelar para todos os jogadores que chegavam às Antas. Jorge Costa não era um futebolista convencional. Nunca se deixou seduzir pelas libras, liras, francos ou pesetas. Mostrou sempre uma grande fidelidade ao clube, não pactuando com a mercantilização que caracteriza o futebol contemporâneo. Quando recusou uma proposta milionária do Mónaco, Jorge Costa dava o passo decisivo para se tornar num dos maiores exemplos do futebolista que joga por amor à camisola. Se nesse período o defesa-central já gozava de enorme prestígio no reino do dragão, com o juramento de fidelidade ao Porto a sua cotação junto da torcida tocou o céu.

Jorge Costa desejava cumprir toda a sua actividade profissional no Porto. Só assim se entendiam as recusas em jogar noutras ligas europeias. No entanto, e porque ninguém sabe ao certo os caminhos onde a vida nos pode levar, Jorge Costa emigrou. Mesmo que essa não fosse a sua vontade. Primeiro, Octávio Machado obrigou-o a uma estadia em Londres no Charlton, emprestado pelo Porto durante um ano. Felizmente, regressou à Invicta bem a tempo de se tornar num dos heróis de Sevilha, de Gelsenkirchen ou de Tóquio. Todavia, nada dura para sempre e se se pensava que o Capitão preparava já a despedida com a camisola do Porto, Co Adriaanse elegera Jorge Costa como última opção para a defesa portista. Esta seria a segunda e definitiva despedida de Jorge Costa do Porto. Partiu para o Standard de Liège procurando retirar o derradeiro prazer de uma carreira fabulosa. A 5 de Outubro de 2006, Jorge Costa disse o adeus irreversível. Jorge Costa não foi azul e branco até ao fim mas a determinação, a glória, a capacidade de sofrimento (fez 5 operações aos joelhos), o exílio forçado, o amor pelo Porto e os títulos arrecadados transformaram o atleta e o homem numa eterna relíquia do clube.

Palmarés:

*Campeão de Portugal: 92/93, 94/95, 95/96, 96/97, 97/98, 98/99, 02/03 e 03/04
*Taça de Portugal: 93/94, 97/98, 99/00, 00/01 e 02/03
*Supertaça Cândido de Oliveira: 93/94, 94/95, 98/99, 99/00, 01/02, 03/04 e 04/05
*Taça UEFA: 02/03
*Liga dos Campeões: 03/04
*Taça Intercontinental: 04/05
*Campeão Mundial sub-20: 1991

1 comentário:

Anónimo disse...

Sinto a falta dele no relvado!
Homem de nobres convicções, fiel à Equipa... Deixou saudade!
Bem haja por tudo!!!